quarta-feira, 13 de maio de 2009

Da Globo News

Mediados pelo excelente William Waack e sua rigidez analítica alemã, o trio formado por Roberto Freire (PPS), e dois analistas políticos, Murillo de Aragão e Amaury de Souza, discutiam a tal reforma política.

Falavam de voto de lista fechada, voto distrital, financiamento público de campanha, enfim, os três pareceram bem cientes de que a política brasileira é muito mais um colossal buruçu* do que a prática da administração pública segundo o desejo do povo, a tal democracia, palavra que deve dividir com "coisa" o título de assumir identidades as mais variadas em nossa língua.

Enfim, eu mesmo embora sem saber de tanta teoria política, opino que como na administração, os processos só dão certo se planejados, organizados, dirigidos e controlados por quem – desculpem – se fuder caso o que era pra ser feito acabar errado ou malfeito.

Numa obra, o peão (colaborador, para os de coração mole) só trabalha bem se o mestre de obras for competente e trabalhar bem, ficar totalmente ciente do grupo que toma conta, não estiver subrecarregado, e isso só ocorre caso o engenheiro seja também competente e tenha feito um projeto bem feito, que só acontece caso o interessado direto seja uma pessoa articulada e souber o que quer. Caso aconteça alguma burrada no processo nos níveis superiores da cadeia de comando, o máximo que pode acontecer é uma porcaria bem feita.

Não é preciso ir estudar em Harvard para constatar que no Brasil o principal, o que é pra ser feito por peões, não está sendo feito, e simplesmente o sistema político atual não tem mostrado nenhuma aptidão para resolver este fato nefasto. Os buracos florescem, assim como o crime, as favelas, a feiúra e desordenação de nossas cidades.

Falta capacidade de organização no brasileiro? Entre em qualquer casa de uma família organizada, quartel militar, em uma loja bem sucedida de qualquer ramo, ou em uma igreja ou templo de qualquer religião ou seita que e observe se não está tudo limpo, em ordem, mesmo com recursos escassos.

Tanto o lar, como o quartel, a casa de comércio, e o templo funcionam por duas condições básicas e relegadas:

1. Há clara transmissão por parte do comando que a ordem precisa ser estabelecida, e é assegurado que os níveis operacionais estejam conscientes disso.

2. Caso alguém mostre falta de percepção deste estado pretendido, leva um esporro, um grito, uma tapa, um carão, é até preso, ou no mínimo posto de castigo ou censurado.

Penso agora no bairro onde moro, e pense no seu, se é que alguém lê isso. Quem vai levar um grito se tiver um buraco bem grande no meio da rua? Quem vai ficar furioso e causar um pandemônio caso existam crianças sujas e malandras, que sairam sabe-se lá de onde, a gritar e a pedir esmolas? Alguém vai sofrer alguma sansão séria caso aconteçam assaltos à luz do dia?

Pode formular quantas perguntas quiser. A maioria das respostas será um belo não. Ah, sim, podemos fazer blogs idiotas reclamando, podemos ir na TV, denunciar, podemos fazer isso e aquilo outro. Entretanto, quem tem a chave do cofre do nossos impostos, o grande condomínio que devemos pagar querendo ou não para viver, está preocupado somente em maquiavelicamente perpetuar-se no poder, e ponto final.

O voto distrital seria uma forma do brasileiro ver a cara do responsável pelo buraco, pela rua que não foi calçada, do responsável pela segurança, saneamento, enfim, é administrativamente impossível que as cidades mesmo pequenas tenham sucesso em sua administração por um prefeito só por cidade, caso ele não seja muito bem intencionado e tenha uma equipe igualmente bem intencionada.

Não precisamos de prefeito, muito menos partido: precisamos que os brasileiros administradores hábeis, estejam em posição de exigir, desempedidos de um sistema ineficiente, monolítico, quase soviético de governo.

Mesmo muito bem intencionados, é praticamente impossível para um prefeito e seu séquito atenderem a todos os problemas de uma cidade complexa, quiça uma metrópole. O emprego do dinheirinho nosso de cada dia, quando gastamos com sabedoria, vai para onde nós mais precisamos dele. Já o público, vai para onde muitas vezes não temos o menor interesse.

A única forma de democracia realmente real é aquela onde o poder esteja diretamente na mão do povo, e não há nada mais democrático do que reclamar do síndico diretamente um problema no seu prédio, nem quatro ou cinco síndicos marcarem uma reunião com o responsável pelo bairro que estão sofrendo assaltos, para que tudo seja muito mais simples e fácil de resolver.

Pode haver até um prefeito da cidade, e o sistema eleitoral ser o misto, mas, com efeito, este sistema tem que mudar, ou o crime atingirá níveis surrealistas, e todas as mazelas da má administração pública.

O modelo atual brasileiro encerra na figura de poucas pessoas o capacidade concreta de ação, e ficamos prisioneiros da boa vontade de pouquíssima gente, que, em geral, ao assumir a verdadeira boquinha, quer mais é fazer de tudo para ter contrapartida por uma campanha tão cara e complexa.

O TRE vem proibindo práticas caras de campanha, que favoreçam os partidos com gordas verbas, porém creio que o financiamento público de campanha, apesar de atrair a atenção do eleitorado para propostas, e não propaganda de massa pura e simples, é um pouco contraditório com relação à democracia, pois se apoio o candidato A ou B é lícito que financia sua campanha, do meu bolso. Financiamento por empresas pode ser tomado como uma caução: caso o candidato vença, esse dinheiro tem de ser devolvido pelo Estado de uma forma ou outra... Porém, uma empresa também deve correr atrás de seus ideais, e porque não, eleger ou apoiar candidatos afinados com sua interpretação do mundo?

Assim, penso que melhor que financiar por meios estatais ou privados seja uma análise do que é realmente uma campanha, pra que serve, e o que deve ser discutido. Com prefeitos que não tenham tanto orçamento, realmente os grandes grupos vão pensar duas vezes antes de apoiar seus candidatos com vultosas somas, pois depois podem não ter condições de serem beneficiados e terem os valores recebidos de volta através de licitações e privilégios. Assim, milhões de reais enterrados em "santinhos" e outras antigas práticas eleitoreiras, já proibidas, parece a mim ser uma luz no fim deste grande túnel chamado Brasil.

Proibição de práticas dispendiosas de campanha, voto que seja mais efetivo - distrital - e diminuição da centralização do poder, com certeza, são direções a serem seguidas para uma nação que precisa buscar uma ordem democrática no funcionamento estatal.

Pelo menos ao que parece, por esta discussão, estamos, se não caminhando para isto, pelo menos olhando para esta direção...




*Buruçu é uma confusão generalizada de gentes e desejos loucamente desordenados, e creio que seja a melhor palavra para descrever uma imensa confusão, em nossa língua, isto é, o que eu acho que é o português, ou foi, que com tantas reformas, está um verdadeiro buruçu na minha cabeça...

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