quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Love me tender...

Discurso do falecido e saudoso Senador Jefferson Peres, sobre o Senado e o panorama brasileiro, em 2006. Para quem nunca ouviu, é uma oportunidade excelente.

O tempo passou, e com certeza absoluta afirmo, embora com enorme pesar, que nada mudou para melhor desde a data deste pronunciamento, e as notícias sobre a crise daquela casa são tão antigas e aborrecidas, como ficar lendo todo dia que Elvis Presley morreu.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

É mesmo...

"...[O] petismo é mesmo engraçado: quem não tem diploma se orgulha de não tê-lo; quem se orgulha de tê-lo não o tem."

Do Reinaldo, que demonstra paciência de chinês ao comentar fatos totalmente desagradáveis, como sempre os protagonizados por integrantes do PT, e ainda consegue fazer uma ironia. É o mesmo que um afetado crítico de restaurante, acostumado a dar nota a pratos de chefs internacionais, quando comer uma bela colherada de cocô bem azedo, de um enorme cão labrador que engoliu desde o absorvente da filha do dono até o resto da feijoada que esqueceram de colocar no lixo a uma semana, ainda tiver a presença de espírito de dizer alguma coisa divertida. Por essas e outras que pagam a ele para escrever, é um sangue de barata congelada danado...

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Jai Guru Dev


Numa tarde sem muito o que fazer na casa de campo de um tio, explorando sua biblioteca dei de cara com uns livros um tanto estranhos, sobre ocultismo, de uma tal Helena Petrovna Blavatsky. Talvez tivesse uns treze anos. Não me assombrei, pois numa das inúmeras ironias do destino, já tinha tido contato com o ocultismo, também fuçando na biblioteca da minha avó, anos antes. Era um volume da coleção Grandes Temas da Salvat. Felizmente, a abordagem imparcial, enciclopédica, racional e direta do volume teve um efeito desmistificador na minha mente com relação aos temas, digamos assim, ocultos. Ao contrário de muitas pessoas, não fui tomado por uma vontade de virar Harry Potter, de forma que a mentalidade mágica hoje me parece uma infantilidade intelectual tremenda, e um atraso colossal, e digo mais, e um dos sinais do fracasso da própria civilização, pois o ocultismo só cresce, principalmente nos países ditos desenvolvidos.

Os livros da Blavatsky tinham explicações muito desconcertantes sobre a significação de muitas coisas do ocultismo, como o mantra mundialmente conhecido, ohm. Sim, aquele mesmo, ommmmmm. Segundo ela, tratava-se de uma invocação a certas entidades espirituais cuja identidade exata não recordo. Não pude aprofundar a leitura pois habilmente meu tio ou minha mãe esconderam o livro. Odioso, não? Qualquer dia desses compro num sebo virtual...

Sei que ruminando sobre o tema, aprendi que a praxe de qualquer prática oculta reside no irritante efeito 'boneca russa'. A pessoa aprende os símbolos e demais significações da crença como sendo uma coisa. Conforme vai se aprofundando no conhecimento oculto, ou seja, aumentando o seu nível, os símbolos revelam novas significações, ou mudam mesmo de significado. É algo profundamente aborrecido para mim, esse conhecimento vindo em camadas, como em uma cebola. Não passa de masturbação mental, e um perfeito motivo para justificar a existência de gurus, e uma hierarquia entre os iniciados. Os instrutores de artes marciais orientais aprenderam a algumas décadas que mudando a cor da faixa dos alunos de artes marciais conseguiriam manter alunos interessados em atingir as faixas mais altas. Somente uma mente movida por um ego gelatinoso e vaidoso, ou uma personalidade harryportiana explicariam em tese o interesse exclusivo em avançar nas faixas do Karate, no Tae Kwon Do, nos graus maçônicos, ou seja no que for. É óbvio que há alunos de artes marciais, como devem existir ocultistas, interessados no crescimento pessoal, e não no status de um grau qualquer, mas com certeza devem ser minoria, principalmente nestes últimos. Há claramente a sedução em sentir-se um privilegiado, o desejo de ser uma pessoa que sabe o que os outros não sabem. É uma espécie de 'complexo de espertinho', de necessidade de sentir-se superior, saber os segredos ocultos, infinitos, pois quanto mais avança sobre os níveis, mais revelações aparecem. Não sou psiquiatra nem psicólogo, mas arrisco que deve existir algo de patológico em viver querendo saber segredos cada vai mais ocultos...

Porque revelar destas leituras ocultistas? Para introduzir o assunto da invasão da religião hindu no ocidente, e o pior, da cara de pau desta invasão, introduzida não pela via religiosa, e sim pela cultural e da prática esportiva.

A invasão hindu

Antes que a mente desinformada grite "Epa, que invasão hindu nada, tá é doido", fique sabendo que grande parte da contracultura dos anos 60, toda ou a maioria daquelas viagens de de hippie, tudo colorido, abertura da consciência via LSD, Woodstock, faça amor não faça guerra, teve influência marcante da religião hindu, habilmente colocada não como uma religião, mas como ensinamentos, filosofia de vida ou simples prática esportiva. Para compreendermos um determinado espaço de tempo, devemos primeiro analisar as maiores influências daquela época. Na cultura americana e mundial não podemos tirar a importância do rock, e a maior das bandas deste período foram The Beatles, e a influência hindu foi tão forte que os quatro rapazes ingleses na época foram para a própria Índia aprender in loco -- hoje em dia mundialmente conhecida e praticada --- a Meditação Transcedental, do guru indiano Maharishi Mahesh Yogi. Em outubro de 1975, estampava nada mais nada menos que a capa da Time. Mil novecentos e setenta e cinco. Percebe? A trinta e quatro anos o barbudo já estava na capa do magazine de maior circulação e influência dos EUA. Mesmo assim pouca gente tem consciência da penetração maciça da religião hindu ao ocidente.

A atriz Heather Graham -- que é uma gracinha -- saiu na capa da mesma Time, desta vez do dia 4 de agosto de 2009, este ano, em outra capa falando de meditação. Seria coincidência? Quem não acompanhar minimamente a indústria cinematográfica pode até declarar-se inocente em relação à força do hinduismo nas estrelas hollywoodianas. Quase nunca apresentada declaradamente em caráter religioso, e sim como uma aparentemente inofensiva prática de exercícios -- os vários tipos de yoga -- ou a prática dos vários tipos de meditação. A instituição Maharishi International University's School of Management, nos EUA, vem formando milhares de executivos de alto gabarito a décadas, inclusive bilionários como Chris Hartnett, que tornou-se seguidor de Maharishi de forma tal que financiou o estúdio para a banda Beach Boys -- seguidores de quem, adivinhem -- gravarem suas músicas. Destaque-se que o grupo também foi fortemente influenciado pelos ensinamentos do guru, que fez da Meditação transcedental um império. Só para ilustrar tem um canal global 24h via satélite ensinando o método, cursos, venda de CDs, enfim, tudo relacionado,aos ensinamentos, em mais de 22 línguas para 144 países. Sempre imaginei os gurus indianos como sendo desprovidos de interesses materiais, mas a verdade é que todos eles são grandes empresários a espalhar seus métodos a todo o mundo, obtendo assim poder -- pela cooptação de personalidades -- e fortuna incalculável.

Por estas bandas vemos inúmeros famosos, notadamente artistas, esportistas e 'celebridades', de Lucélia Santos, a Gustava Kuerten, de Angélica a Fernanda Torres, passando pela über model Gisele Bündchen, praticarem yoga. Também muitos famosos praticam Meditação Transcedental, de Cláudia Ohana a Rodrigo Santoro, entro outros menos ilustres, como meu ex-colega de faculdade, o ex-prefeito de Recife, João Paulo.

O engodo

Até aí tudo bem, somos todos livres para fazer o que bem entendermos contanto que não prejudique os outros. O ponto primordial nesta invasão cultural indiana é aquela velha tática de cooptação tão usada por seitas. Você envolve o indivíduo num conjunto de práticas e rituais que ele pensa ser uma simples prática física ou uma metodologia para ter mais concentração no trabalho, diminuir o stress, e mal sabe o praticante do teor sobre natural de tais procedimentos, enraizado em milênios de ocultismo.

Os mestres não tem desculpa de dizer que não sabiam deste porém. O máximo que podem dizer, caso sejam perguntados, é que as práticas que pregam -- diversas formas de meditação e yoga -- são sim formas de esoterismo, quem disse que não? Este procedimento, este verdadeiro drible, é muito utilizado em assuntos nebulosos. Consiste em não mostrar diretamente do que se trata o assunto, apontar os benefícios desta ou daquela prática, e caso aconteça uma pergunta

Mentir sobre o que de fato é, o real propósito, a verdadeira natureza do que se prega é um cinismo colossal, além de ser um estelionato espetacular. Está lá a garota na academia fazendo yoga, feita como uma ginástica qualquer, e está repetindo posturas que podem invocar energias muito antigas, e fazer a mocinha ser possuída por espíritos. E muito provavelmente nem o professor não sabe. Nem o professor do professor. É como perdem-se os reais significados das coisas na sociedade ocidental. Diluem-se como o gelo no whiskey.

E antes que os céticos digam que são apenas posturas, exercícios, que esse negócio de espírito não existe, sugiro a leitura dos livros do maior exorcista da Igreja Católica, o Pe. Gabriele Amorth, que com suma bondade e boa fé relata, sem o tom misterioso, tão comum aos gurus, as estripulias do capeta para atormentar, prejudicar e destruir as pessoas. Delineando com calma e serenidade secular o que é psicologia, psiquiatria, parapsicologia e o que a ciência não explica, o santo padre abre sua extensa bagagem, para junto com os demais profissionais da cura, médicos e analistas, de maneira complementar livrarem as pessoas do inimigo, seja ele interno ou espiritual. Sugiro os livros em especial Novos Relatos de um Exorcista, e Um Exorcista Conta, ambos do Pe. Amorth. Leitura pode ser desconcertante, aviso logo.

Antes que façam cara feia sobre a parte esotérica da yoga, leiam o que diz um grande mestre, um tal Svatmarama, por volta do século XV: "Hatha Yoga é um instrumento perigoso. A pessoa pode ser possuída por uma divindade hindu através do estado de consciência alterado induzido por essa prática."

Será que ele estava brincando?

Antes de escrever Jai Guru Dev no seu Orkut, saiba bem direitinho o que significa, nem tudo na vida é superficialidade, muito menos a religião hindu com seus milhares de deuses e seu efeito матрёшка (a tal boneca russa)...

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

É...


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terça-feira, 11 de agosto de 2009

Nem tudo é novela


A arte de escrever romances quase nunca obedece ao rigor histórico e o contexto sociocultural em relação aos sentimentos dos apaixonados. Geralmente, ao lermos tais novelas, ou assistirmos a suas adaptações na telona, nos deliciamos com amores impossíveis. Não como de Romeu e Julieta, que somente eram de famílias rivais, mas sim amores completamente impossíveis, como o do filme O Último Samurai, de Edward Zwick, onde a personagem japonesa Taka apaixona-se pelo personagem interpretado por Tom Cruise. Alguém que não conheça a cultura japonesa minimamente pode dizer "que isso, que preconceito, é claro que uma japonesa esposa de um samurai falecido poderia apaixonar-se por um gringo". Aliás, acredito que tal fato passou batido, totalmente ignorado, sem qualquer análise mínima, na maior parte de audiência. Freud ensina que o amor é a supervalorização, e uma japonesa viúva de um samurai, imersa nos valores do Bushido, jamais, de nenhuma forma, poderia admirar como marido um não-samurai, quanto mais amar um americano. O filme tenta resolver isto fazendo o personagem de Cruise introjetar o espírito samurai, outra coisa sem a mínima possibilidade de poder acontecer. Tal casta japonesa era de tão intrincado padrão de comportamento, de personalidade forjada num modo único, com experiência na formação do caráter desde tenra idade tão próprias, inigualáveis, aprendendo técnicas de alta complexidade, com segredos singulares, na máxima disciplina, baseados em uma tradição milenar, que é impossível a um indivíduo adulto, ainda mais estrangeiro, adequar-se suficientemente a uma imitação a mais grosseira que seja do que seria um verdadeiro samurai.

Na sociedade ocidental, com sua visão completamente míope, é prática comum tomar partes das outras culturas somente para o desígnio que convém, ignorando todo resto, é claro que não causa espanto um filme desses não ser motivo de risos. Tomemos por base a ioga (yoga), prática esotérica da religião Hindu. Tem por finalidade unir corpo e espírito no todo do universo, porém sua prática virou aula de academia. O mesmo se passa com o Maracatu, que virou simples brincadeira de Carnaval, quando encerra uma cerimônia religiosa de coroação de Reis africanos. Tais fenômenos de redução de algo muito mais intrincado para um simples atividade, é a cara da sociedade brasileira, diga-se de passagem. Como num iceberg, a maior parte da compreensão da humanidade fica mergulhada no mar da pobreza mental e espiritual.

Voltando ao tema dos samurais, o filme lembrou-me muito o livro de James Clavell, cuja capa da edição em inglês ilustra o começo deste post, como há de notar quem não for tapado. Caso eu não tivesse lido antes as 1808 páginas de Musashi, de Eiji Yoshikawa, eu acho até que teria boa impressão da obra de Clavell. Obviamente a leitura de Yoshikawa não me tornou um japonês, muito menos um samurai, mas deitou luz sobre muitos aspectos principais da cultura japonesa tradicional. Um destes aspectos centrais é a tradição de levar todas as atividades a um verdadeiro state of the art, demandando décadas de prática intensa para aperfeiçoamento mesmo de atividades coloquiais, como fazer uma roupa, fazer louça, tomar chá, fazer armas, aprender lutas e artes marciais. Como no filme de Zwick, há um amor impossível no romance clavelliano, com Blackthorne e Mariko virando amantes.

Quando era pequeno e assistia a desenhos animados, notadamente havia em muitos momentos um personagem que era o diferente da "tchurma", e se, quando menos você esperava, eles enturmavam-se. Podia ser um ET, um extrangeiro, um diferente qualquer. Acredito que tal repetido ciclo de introdução do estranho para o grupo teria a inteção de reforçar a idéia nas crianças que o diferente é igual a nós, e este tipo de bobagem. Não devemos ser preconceituosos com os diferentes, devemos na medida do possível deixá-lo entrar em nosso grupo social, interagir sem preconceitos com tais pessoas, mas definitivamente não devemos fazer deles cópias nossas, nem devemos desejar sermos iguais a eles. Em essência somos todos seres humanos, seres vivos, mas dentro de nossos corações e em nossas almas precisamos nos diferenciar uns dos outros, não pelo lado negativo, para explorarmos, nem para querermos ser superiores, numa teimosia infantil, como um jovem que vira um revoltadinho punk de boutique.

Respeitar as diferenças, repito, quando isto for possível, é muito diferente de eliminarmos as diferenças, notadamente quando há um certo consenso que as religiões mas afastam do que agregam as pessoas. Daí surge o laicismo forçado, notadamente anticristão. Afinal, as ideologias do século XX, como ensina Meira Penna em A Ideologia do Século XX, são verdadeiras religiões civis. Uma nova entidade surgiu, o povo, uma massa compacta e impossivelmente homogênea. Essa falta da heterogeneidade das gentes pode até explicar essa forçosa idéia que somos todos iguais. Quanta besteira. Como se a vida pudesse ser gozada em sua plenitude somente caso fossemos todos iguais, ou ao menos parecêssemos todos uniformes, como num quartel. Mais uma vez, quanta besteira, mesmo no quartel existem os postos, as diferenças, a pluralidade de gostos...

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Esta reflexão sobre amores impossíveis levou meus pensamentos a outras aplicações desta magnífica capacidade humana de contar histórias inverossímeis. Vem logo à minha cabeça Marx, com sua besteira sobre o que é valor, sua idiota concepção da economia e sobre a luta de classes. Insidiosamente estes e muitos outros pensamentos infundados contaminaram as resoluções de muitos nações inteiras, Chefes-de-Estado, e outros tantos revolucionários, que como os leitores desavisados de Clavell pecaram pela falta de conhecimento prévio de certos valores primários, que uma vez compreendidas mostrariam o absurdo do conteúdo de certas ideologias, tão possíveis quanto o amor das japonesas das histórias supracitadas pelos estrangeiros, tão praticável quanto um adulto tornar-se um samurai que não fosse uma caricatura mal feita e desastrosa. Em tempos onde o que importa é a futilidade, o que importa é realmente parecer, muito mais do que ser, fica complicado dizer que nem tudo que reluz é ouro. Desde remotos tempos há citações para sepulcros caiados, lobo em pele de cordeiro, e expressões análogas, então, o que tem a visão mais apurada dos fatos deve tentar apaziguar sua raiva interior pela falta de compreensão da maioria, e tentar, humildemente mostrar a verdade. Até porque não foi ontem que Andersen escreveu o conto A Roupa Nova do Rei, e sim em 1837, e mais do que nunca, hoje todos querem parecer inteligentes e ver o que não existe...