quinta-feira, 30 de julho de 2009

Gol


Ex-jogadores americanos da copa de 1950 no Hall of Fame do futebol de lá.


Há no mundo uma implicância contra os EUA, afinal são anos de propaganda maciça contra seus costumes, crenças e valores. Sempre taxados como prepotentes, capitalistas selvagens, sendo os vilões do mundo. Qualquer ditadorzinho de merda líder de nação subdesenvolvida culpa o imperialismo americano pela totalidade de problemas nos países análogos ao seu, e não por incompetência interna. Como fosse possível um país que valorize a educação, entuito de esforço e excelência, com gente esforçada e trabalhadora, não estar fatalmente condenado ao sucesso, como mostram Coréia do Sul e Japão, que dia desses estavam em escombros e deram um salto tecnológico e social anos luz à frente do Brasil, por exemplo.

Terem salvado o mundo nas duas guerras contra os nazistas, e terem sido os bastiões da liberdade contra os soviéticos, são fatos habilmente esquecidos. Por uma engenharia histórica espetacular, os que pregavam a liberdade hoje são tidos como totalitaristas, e Bush comparado a Hitler, enquanto um sanguinário como Saddam Hussein tido como pobrezinho presidente morto pelo menosprezador Uncle Sam.

Entre essas loucas interpretações da história, há certos aspectos da cultura americana que são realmente de tirar o chapéu, vistos sob qualquer ângulo. Um destes é a capacidade de reconhecer e louvar os feitos heróicos de seus cidadãos. Estava eu gripado na cama ontem quando começou um filme sobre futebol. Eu gosto do desporto, e com curiosidade esperei o desenrolar da trama. Tratava-se do filme The Game of Their Lives, de David Anspaugh, baseado no romance homônimo de Geoffrey Douglas. Um breve resumo descreveria o filme -- até bem feito pelo orçamento que não deve ter sido grande coisa -- como sendo o relato da heróica vitória da novata seleção americana de futebol em cima da toda poderosa Inglaterra por 1x0, na fatídica Fifa World Cup de 1950, onde o escrete canarinho perdeu na final por 2x0, em pleno Maracanã.

Quem ama o esporte não tem como não se emocionar com a aventura dos rapazes americanos. Totalmente inferiores, com um time meio mambeme, utilizando de toda garra e fibra possível, contra todos os prognósticos, num gol de cabeça de um haitiano conseguem destronar os fleumáticos ingleses, inventores do jogo, cheios de sentimento de superioridade. totalmente favoritos. Deve-se salientar que a relação entra as duas nações é meio como a nossa com Portugal, eles são os colonizadores, detêm a tradição, enfim, havia aquela forçada de barra para os ingleses terem uma posição mais ou menos como "irmãos mais velhos", ou "professores".

Em relação ao nosso Brasil, quando fazemos um filme sobre futebol, os protagonistas são os mais sem graça humoristas que provavelmente já existiram, o grupo Casseta & Planeta, num filme no padrão brasileiro de esculhambação, o horrível a Taça do Mundo é Nossa.

Enquanto um povo inspira-se nas conquistas do passado, usando como fator motivicional o pregresso sucesso dos compatriotas para vencerem situações igulamente contrárias e difícies, nosso país orgulha-se do nada. Ainda por cima há no meio jornalístico quem caçoe dos brasileiros que choram quando chegam ao pódio. As lágrimas afloram pela emoção de serem os próprios heróis, nesta terra onde valoriza-se a esperteza baixa, o jeitinho, a corrupção, o favorecimento dos 'nossos' em detrimento de todos nós. Um americano vai receber a medalha de ouro com um sorriso no rosto, pois sabe que não é um personagem quixotesco, e sim mais um de seu país a voltar para casa com uma medalha no peito.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Não somos debilóides

A revista Istoé n.º 2071, desta semana, tem uma matéria com Lenore Skenazy, uma escritora americana que causa alguma controvérsia lá pelas bandas do Tio Sam por tratar seus filhos não como dois imbecis, mas como seres inteligentes e que sabem tomar algumas decisões simples, como escolher qual metrô pegar para chegar em casa, com 10 anos de idade. Claro que isso é um contrassenso numa nação que não reprova mais os alunos do ensino básico por não conseguirem passar nos exames, para não criar trauminha. Nosso país importa todo tipo de lixo, desde o cultural até o lixo mesmo. Uma das porcarias é a idéia ridícula deste tipo de ensino falso que tem como foco a auto estima e a inclusão, e não o aprendizado. Como fosse possível uma pessoa que não foi reprovada na escola, mesmo sem estudar, desempenhar um papel na sociedade que exija cobranças, esforço, superação, estresse. Como essa gente lidará com frustrações, ansiedades, e principalmente, como suportarão falhar? Quem passou toda a infância tratado como um retardado, num passe de mágica tornar-se-á um adulto preparado para os desafios do mundo real? Sem comentários...

Observem que não só na teoria econômica e social molda-se tem tempo um paradigma mundial onde somos todos hipossuficientes, e o nanny state tem que nos salvar dos capitalistas malvados. Também a décadas décadas as ciências relacionadas com a educação corroboram esta absurda visão do ser humano como um ser inapto para viver, que precisa de inúmeras muletas para ter a possibilidade de qualquer sucesso. Nada disto é novo, infelizmente.

É um retrocesso monumental para toda a humanidade este pensamento desgraçado que molda-se a qualquer situação, até no Direito. Lá fora, apesar de cada vez mais o pensamento nanny state infiltrar-se mais e mais na educação e economia, no Direito a Lei é mais dura que aqui. Lá fora digo nos países desenvolvidos, diga-se de passagem. Na terra da Rainha Elizabete, um menino que matar algúem vai preso do mesmo jeito que um adulto. Por aqui, leio notícias de gangues formadas por "menores" que quando fazem 18 anos pronto, são réus primários. Tal excrescência como o ECA - Estatudo da Criança e do Adolescente, é um exemplo preciso da deste pensamento "oh, tadinho, você mata e esfola por culpa da sociedade, você não tem culpa, pobrezinho".

Parem e pensem por instantes, todos os pensamentos totalitários são oriundos da mesma obcena mente criminosa que coloca-se em posição de superioridade. Ela impõe o que é valor (marxistas e esquerdistas em geral), dita o que é o comportamento normal (movimentos de affirmative action), e julgam a sociedade como criminosa ao contrário do delinquente (direitos humanos). Tais patifes, bem ou mal são organizados, e direcionam seus esforços de tal maneira que os valores tradicionais vão-se substituindo sem que outro grupo tenha competência de reafirmá-los. Não vejo outro panorama do que o de uma guerra cultural se formando ao horizonte...

domingo, 19 de julho de 2009

Vídeo importantíssimo

Há momentos em que a observação da realidade objetiva demanda um momento de relaxamento, e nem sempre as latinhas estão geladas...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Radicais de verdade


É presença constante em obras distópicas a presença de uma entidade totalitária, meio corporação, meio estado. Blockbusters futuristas trazem sempre exemplos, como a OCP em Robocop, ou o Skynet em O Exterminador do Futuro, e tantos outros. A possibilidade de uma grande corporação crescer tanto até tomar proporções estatais, é vista por grande parte das pessoas como algo totalmente fictício, longe de qualquer probabilidade concreta de acontecer. "Estamos noutro paradigma, não há como acontecer mais uma URSS ou III Reich". Será? O totalitarismo não é algo novo, vem desde sempre, passando pelos inúmeros Impérios, o Romano dominando o mundo todo, o de Alexandre, o Grande, modernamente, o de Napoleão e dia desses, o de Hitler, para resumir bem resumidamente a infinita história de tiranias da humanidade. O delírio incessante de dominar o mundo infelizmente é algo de consequências bem concretas. A tirania global é impossível de não ser fator a ser levado muito a sério em qualquer tentativa de análise da realidade das nações e povos.

O fim de uma entidade totalitária bem real -- o bloco comunista soviético -- é interpretado por muitos como sendo a morte do socialismo/comunismo, e da possibilidade do totalitarismo acontecer. Em certos círculos, notadamente naqueles onde as pessoas crêem serem atualizadas, falar em comunismo é que Elvis Presley não morreu. Não tenho conhecimento suficente para afirmar a etiologia deste fenômeno, se é obra de desinformação proposital, ou uma simples interpretação apressada, dessas cuja hermenêutica de grande complexidade demanda um tempo maior de análise, aliada a um maior conhecimento específico, algo além do que a média das pessoas, mesmo as mais instruídas, possui. Assim, caso o Chefe de Estado não seja um biltre metido em trajes militares, nem comece a tagarelar com base nos termos do tipo "imperialismo", ok, não há tal regime. Ou seja, caso não seja um Fidel, não há socialismo. Pode ser um sargentão como Hugo Chávez, a fechar emissoras de TV, estatizar empresas e bradar frases velhas e mofadas, mas não há socialismo lá, afinal, há eleições, mesmo que ninguém tenha como noticiar fraudes e o governo use expedientes como os que o colega Lula usa, os "bolsas tudo". Pensar em tais assuntos é encher a mente com coisas negativas. São tantas as mentiras ditas habilmente para parecerem meias verdades e verdades inteiras, que o cérebro parece ter tanto a analisar tudo detalhadamente que diz "ah, que se dane". A mim fica bem claro, como para algumas pessoas, que o socialismo é mutável o bastante para existir sem a necessidade de um barbudo no governo. Pode ser muito bem uma educada senhora, ou um elegante senhor de fala mansa, a discutir num tom amistoso a legalização do aborto, casamento gay e redução das emissões de carbono.

Essa caricaturização do socialismo/comunismo é muito nociva, pois desvia o foco dos desdobramentos desta massa amorfa. O núcleo das idéias socialistas/comunistas reside na questão da renda, e da posse. Todo o resto é firula. O erro na compreensão do lucro gera a necessidade primária de redistribuir esta renda a quem é "explorado".
Na França, Alemanha, Suécia e Noruega hoje em dia trabalha-se mais da metade do ano para pagar impostos. O socialismo travestiu-se, desmilitarizou-se, foi pro shopping, e usa iPhone. Outrora uma lagarta grande e peluda, agora voa por aí, repaginado. Tal mudança é a social-democracia. A tirania não personificada em um líder ou grupo político, e sim num sistema que usa os homens para manter-se. Esse sistema gerou um Estado que tem muitas obrigações para com todos seus cidadãos. Tem que dar moradia, instrução, saúde, e como não gera lucro, tem que tirar esses recursos de quem produz. Este "Estado Babá" (Nanny State), é algo aparentemente muito conveniente, pois há mais direitos que deveres . Uma tentativa de compreensão deste trágico cenário pode começar pela análise do nome: precisa de babá quem é hipossuficiente. Um bebé, ou qualquer pessoa cuja enfermidade a impossibilite de tomar conta de si mesma. Um estado que garanta todas as condições para vivermos, retirando de nosso controle aspectos importantes de nossa vida -- condições para vendermos nossa força de trabalho, possuirmos bens, termos filhos, etc. -- criará o que ficou conhecido como o homo sovieticus, termo criado pelo sociólogo Aleksandr Zinovyev. Um rápido exemplo deste tipo de homem pode ser explicado pelo personagem de Morgan Freeman no premiado em Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption). Uma vez livre depois de quarenta anos preso, "Red" vai trabalhar num supermercado como empacotador e pergunta ao chefe sempre se pode ir ao banheiro, e o chefe repete que não precisa pedir, basta ir. Depois de tanto tempo condicionado, para mudar um modelo mental é complicado.

Este ideário encerra conceitos muito perigosos em ralação a temas centras de nossas vidas: a família, a propriedade, a liberdade individual.

A família

Todos os dias temos notícias de discretas formas adotadas pelo Estado, mundialmente, para transferir o controle sobre a instituição que conhecemos como família. Exemplo disso é quando a idéia de educar as crianças em casa torna-se algo absurdo numa sociedade. Caso não caiba nem a discussão do que é melhor para as crianças, fica patente a quem pertencem as crianças: o Estado. Em tempos onde o tráfico humano -- prática atávica -- é uma daquelas coisas descobertas como se nunca tivessem existido ou tivessem acabado com a abolição da escravatura pelo mundo afora, realmente nota-se o grau de distanciamento dos grandes círculos de informação perante certos temas básicos da vida humana.

Numa sociedade moralmente sadia não pode haver dúvida sobre a quem pertence os filhos de um casal, gerado pelos meios naturais -- são inteiramente de seus pais. Tal propriedade não é autorização para qualquer maltrato, como o dono não pode chutar o poodle, e como desculpa gritar afetadinho que ele é dele e ele faz o que quiser. Ao contrário do pobre cachorrinho, a criança está desenvolvendo sua consciência para compreender que se pertence, embora muitas pessoas morrem velhas e infelizmente não tenham esta óbvia constatação.

Uma forte ofensiva contra a família reside na crença de que a "evolução" do homem é ser avulso, ter filhos independentemente de família ou casamento. Esquecem que além da proteção física (caso um dos pais morra o outro assume), há o arcabouço psicológico, de ter o apoio em casa, de ter um lar. Some-se a isso a constatação de como sofrem as pessoas hoje nos países civilizados, como deprimem-se e vivem a base de remédios, por não contarem com uma base familiar bem estabelecida. Egoísmo, ganância e infantilidade usam esta suposta possibilidade do fim da família ser possível e o mundo não entrar em colapso. Porém, sem o fim da família, não poderá acabar o Estado, e ser implantado um governo mundial. Pensem bem neste tema sem emoções e preconceitos.

Propriedade privada

Em quase todos países onde existem alguma forma mais ou menos estável de democracia -- América do Norte, Leste Europeu, Ásia, Oceania, e uns gatos pingados mundo afora -- o governo absorve grande parte do que é produzido através da carga tributária. Tal noção é bem vívida nos EUA, com seu Tax Freedom Day, ou seja, o primeiro dia do ano que você não está trabalhando para o governo. Lá, são mais de três meses para pagar impostos. Aqui pelo Brasil varonil são mais de quatro meses. O pensamento corrente é que sim impostos são necessários, afinal, como vai se manter a estrutura do Estado? Contrariar este dogma civil atrai pensamentos como "o que você está pensando é ridículo, quero o fim dos impostos, que coisa mais fora de propósito, se toque!". Discutir a contrapartida dos impostos nem interessa nesta conversa. É claro que na Suécia há os serviços públicos em nível muito superior aos daqui, né? O que interessa é que metade da sua força de trabalho dos cidadãos dos países desenvolvidos vão para um governo, e da pior forma: não arrancado por um soldado de frios olhos assassinos, mas por uma senhora rechonchuda e perfumada do fisco. Ter, possuir, tem muito mais a ver com ter domínio sobre, sem interferências, do que com um título ou qualquer outra besteira. No Brasil você compra um carro, tem num papel que ele é seu, e 60% daquele dinheiro vai para o governo. Isso é um absurdo, embora as pessoas gastem mais tempo falando do time de futebol ou da novela.

Liberdade individual

A liberdade individual não existe no vácuo. Posso imaginar um bocó pensando "Ah sou livre, vou dar a volta ao mundo, fumando maconha, e lutar pelos direitos dos poodles". E ter a péssima constatação que sua liberdade acaba quando desceu do ônibus na próxima rodoviária e que a liberdade para sair do país custa bem mais dinheiro do que ele imagina. Mas aí ele pode pedir carona, eventurar-se, andar, ou comprar uma motocicleta, como o me lambe os ovos do Che Guevara, e sair passando pela América do Sul. Você, sim, você aí, pode sentir-se livre e andar a pé o mundo todo e levar uma carreira de um ganso invocado por você ter invadido o território dele. Antes de entrar em discussão jurídica sobre a positividade do direito versus naturalidade e ganso arrancar seu olho com uma bicada para terminar o assunto, fica bem claro que a liberdade tem limites. É mais fácil dizer o que a liberdade não é, do que ela é. Como a luz, e a sobra. O que é a luz? Bem mais fácil dizer que a sombra é a ausência de luz. Acho que já escrevi sobre isso. Bem, sigamos, se quiser diversidade, vá para onde você está imaginando.

Para sermos livres numa sociedade, é preciso ter instituições que nos permitam gozar deste privilégio, da mesma maneira que só somos livres no colégio por causa das professoras que vigilantes vigiavam-nos na hora do recreio, protegendo-nos dos alunos mais velhos que insistiam em acabar com nossa liberdade de ir e vir. Tais professoras, tornavam-nos livres para jogar bola, cantar, brincar, e interagir de inúmeras maneiras no pátio do recreio, mas não éramos livres para ficarmos pelados. Tampouco podemos ficar vestidos numa praia exclusivamente nudista. Nem um soldado pode desfilar de chinelos porque machucou o dedão numa bola dividida, no dia anterior.

Embora sejam situações diferentes, não podemos nos esquecer dos condicionantes da liberdade. Quando a liberdade de uma nação é posta em cheque por conta de ameaças beligerantes, acontecem as guerras, resultado no século passado somente de ofensivas de países totalitários contra países democráticos. Interessante, não?

Está na hora das pessoas saírem de suas prisões mentais e começarem a ver este cerceamento da liberdade num nível totalmente supranacional.

Não se deixem seduzir pela delícia de ter a opinião da maioria. Embora sinta resistência em comentar isso em rodas de amigos, procure dar esta idéia sem maiores intenções histéricas, pois apesar do assunto ser da maior gravidade, podem taxar a você de radical. Não se preocupe, porém. Radical de verdade é quem quer mudar o mundo inteiro, e para pior. Pense nisso tranquilamente. Isto é, se alguém ler isto.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Faces do socialismo



Estava eu dando uns goles num bom vinho, quando acho um interessante debate na TV. Era uma discussão sobre o fechamento dos manicômios, e os participantes eram em três: uma militante da luta anti-manicomial, Iracema Polidoro, o chefe do serviço de psiquiatria do Hospital Universitário Clementino Fraga, Dr. Marco Antonio Alves Brasil, e o poeta Ferreira Gullar, pai ele mesmo de dois filhos esquizofrênicos. Lá pelas tantas, a militante falou em algo como se quisesse transferira responsabilidade da loucura par a família do doido paciente psiquiátrico, e foi interrompida pelo poeta – grande conhecedor do sistema manicomial – e afirmou que quem dizia algo assim era uma "falsa esquerda", que invertia a causa e efeito. Seguindo o raciocínio, o poeta disse que assim não havia loucos, era a sociedade que era doente, não havia bandido, era a sociedade que os produzia, etc.

Isto marcou-se em minha mente, como um post-it, para posterior análise. Ora, o que ele queria dizer exatamente com "falsa esquerda"? Seriam produzidos onde, os falsos esquerdistas? China? Vendidos onde? No Paraguai?

Brincadeiras à parte, o fato é que essa discussão sobre a legitimidade da esquerda torna-se um assunto totalmente fútil frente ao mal, bem real e concreto, que os governos de esquerda fizeram e fazem onde foram constituídos. Frente à desinformação perpetrada, por décadas inteiras, pelos defensores desta forma de organização social, imagino que grande parcela da população nos países democráticos que não gosta de política, nem se interesse por tais assuntos, ou mesmo não dominem consistentemente as definições, olham até com bons olhos idéias aparentemente inofensivas dos socialistas. Tentarei resumir as faces deste sistema totalitário, assim como é vendido para o mundo, principalmente nos países democráticos. Por óbvio que assunto de enorme complexidade não pode encerrar-se aqui, nem tenho pretensão de fazê-lo, pois creio ser necessário muito maior musculatura mental. É, portanto, uma tentativa humilde para definir, dentro deste intrincado objeto de estudo, cores mais compreensíveis, permitindo ao cérebro de fazer como nas nuvens, onde podemos, de acordo com nossa boa vontade, ver animais, objetos, e as mais variadas formas.

Socialismo como forma de "justiça social"

Arrisco que tal pensamento tacanho sustenta-se pelo seguinte raciocínio:

Todos problemas do mundo são causados pela exploração dos pobres pelos ricos. Suprimindo estes últimos, ninguém mais passará fome, tampouco existirão maiores problemas.

Seria uma análise, como direi, de uma "falsa esquerda"? Simplificando os complexos problemas do mundo para caberem numa solução mágica? De toda forma, é uma idéia que não encontra maior sustância quando examinada minimamente.

Começo logo dizendo que ter ou não ter, antes de mais nada, depende de um estado de coisas. Mesmo numa situação onde não exista Estado constituído, ou onde não se faça presente, o ter depende de algo para manter esta posse. Neste panorama, imaginemos um conjunto de fazendeiros, que unidos num clã criam gado. Sem o Estado para defendê-los, baseiam suas propriedades unicamente na certeza de que caso sejam roubados os outros tomarão partido e partirão ao encalço dos ladrões. Observem friamente que só tomaram esta medida por partilharem certos valores, muito definidos, em comum. Não é preciso muita imaginação para criarmos inúmeras situações em qualquer tempo ou escala, onde isto ocorra. Tal idéia permitiu mesmo a criação das nações, de grupos como a OTAN, ou como gangs de bairro. Embora não compartilhem todos os valores, um grupo específico é bastante considerado e valorizado. Por exemplo, um fazendeiro pode ter o valor de andar despido por suas terras, bem como sua família e agregados. Já outro pode seguir o vegetarianismo, criando os animais somente para leite e lã. Entretanto, sem o valor em comum da propriedade, tal comportamento de correrem atrás dos gatunos não seria possível.

Certas crenças mais ou menos complexas ou cheias de nuances permitiram e permitem todas as sociedades de existirem. Porém, quando crenças-chave não combinam, todos sabemos o resultado: a guerra.

Ter, possuir, não é fruto de um capricho, nem de um complô, nem roubo, e sim resultado dos esforços bem sucedido para satisfizer as necessidades alheias, de maneira à atender suas próprias necessidades. Isto claro numa sociedade que tenha como valores coincidentes a propriedade privada, a livre iniciativa, e a liberdade individual. Esta idéia fica totalmente deturpada por quem tem uma crença errônea justamente no núcleo do processo produtivo. O esquerdista segue Marx, que propunha que a quantidade de trabalho empregada na confecção de uma mercadoria define única e totalmente seu valor. Assim, seguindo esse raciocínio, caso você decida comprar um Boing 787 por US$ 120 milhões para inaugurar sua companhia aérea, o valor das passagens pago pelos 210 passageiros do vôo inaugural não vai para você, e sim, para o piloto, co-piloto e comissários de bordo e pessoal em terra.

Pensando minimamente sobre o tema, notamos que o valor das coisas independe de algo abstrato, imutável, eterno. O valor de algo depende unicamente dos variados motivos e das tensões de procura e oferta. Num país as circunstâncias permitem à loja ofertar uma BMW tamanho médio, nova, no valor de US$ 30.000,00 enquanto noutro país por conta nem tanto das tensões de oferta e procura, e sim as circunstâncias – como impostos, taxas, custos – o valor sobe para US$ 100.000,00, se convertidas as moedas. O automóvel teve seu trabalho para ser feito triplicado? Não, apenas as circunstâncias mudaram. Outro exemplo mais simples: numa cadeia um maço de cigarros vale bem mais que o valor fora daquela situação. Nada disso importa para o hábil alemão, que usou de sua conhecida dialética para moldar as relações mercadológicas para como ele queria que elas fossem, e não, como são. Por algum motivo cuja etiologia talvez somente a psicanálise possa demonstrar, Marx quis extrair um valor absoluto do trabalho, como o calor da termodinâmica, a luz da ótica, e Böhm-Bawerk explica muito mais conveniente e detalhadamente do que eu, aqui. Reduzir a complexidade da precificação e da subjetividade do valor, é como reduzir todas intrincadas relações humanas aos trejeitos pueris de personagens fictícios, como numa novela para teenager, tipo, Malhação, da TV Globo.

Socialismo como forma de ser "bonzinho"

Creio que esta é a visão mais pop do socialismo. Não sei se é a mais idiota. Ser artista e não ter as idéias meio socialistas, nem falar tanto nos tantos chavões como criticar a distribuição de renda, criticar os bancos, dizer que está envolvido em causas sociais, não dá audiência. Criticar a indústria de armas como causadora de guerras, massacres, e até do alto índice de criminalidade, dá maior Ibope ainda. O crème de la crème é criticar os "burgueses"sendo pagos por eles, em festas deles, bem na cara deles, que idiotas, riem e acham o máximo. O máximo para tais estrupícios é realizar shows, peças de teatro, filmes -- tudo pagos obviamente por paquidermes como as Petrobrás da vida -- e pagarem de pessoas boas, evoluídas, com seus sorrisos odiosos e roupas chics, olhares blasè, declarações propositalmente afetadas, como pudessem ser cheios de comiserações pelos problemas do mundo, entorpecidos como são em sua maioria por todo tipo de psicotrópicos, vida sexual e amorosa desenfreada, bem como por seus egos inflados, e suas crises existenciais.

Socialismo como forma de ser "revolucionário"

Abarca todos idiotas como o sanguinário Che Guevara, cuja face supera em muito o simpático Mickey Mouse em número de aplicações e usos, estando inacreditavelmente em todo lugar, do chaveiro à bandeira de torcida organizada. O estudante de universidade federal protestando "contra o imperialismo". O ignorante de boné vermelho do revolucionário e perigosíssimo MST. O padre vermelho. O artista cuja obra ninguém paga para ver, mas existe por obra e graça do dinheiro estatal. Enfim, os maravilhosos seres humanos imaginando-se procuradores de um "bem" comum, levando até as últimas consequências seus atos que por mais torpes sejam, imaginando serem purificados pela gloriosa frase: os fins justificam os meios.

A vontade transcende a razão, e inteligência não é sinônimo nem de idoneidade nem autocensura. A paixão cega, e todos conhecemos quem já ficou cego de amor por uma pessoa, e quase todos nós já ficamos, em maior ou menor grau. O mesmo processo acontece com quem apaixona-se por um ideal, ainda mais quando tal ideal alcança a envergadura de uma ideologia, que tem o poder satânico de se reinventar, de permitir tantos maneiras de se fazer compreender, de se fazer propagar, de se fazer mudar sem transparecer, com um cogumelo atômico a elevar-se lentamente, numa escultura horrível e colossal, ícone máximo da capacidade destrutiva e resultado nefasto na aplicação tortuosa das capacidades humanas.

Prendendo para libertar, matando para fazer viver, promovendo a fome como forma de dar comida, assim sucessivas gerações de revolucionários devastam o mundo para depois implementarem suas mudanças. Uns, infantilmente, como a criancinha usando de sua crueldade destrói o castelo de areia, ou quebra o brinquedo, para depois refazer. Outros, de caso bem pensado, impõe ao mundo sua visão particular como a única possível, e obviamente a mais correta, mesmo que os meios não indiquem nenhuma possibilidade concreta de algum fim ser possível, a não ser o fim da humanidade.


Depois, talvez, volte a estas faces trágicas...