sexta-feira, 17 de julho de 2009

Radicais de verdade


É presença constante em obras distópicas a presença de uma entidade totalitária, meio corporação, meio estado. Blockbusters futuristas trazem sempre exemplos, como a OCP em Robocop, ou o Skynet em O Exterminador do Futuro, e tantos outros. A possibilidade de uma grande corporação crescer tanto até tomar proporções estatais, é vista por grande parte das pessoas como algo totalmente fictício, longe de qualquer probabilidade concreta de acontecer. "Estamos noutro paradigma, não há como acontecer mais uma URSS ou III Reich". Será? O totalitarismo não é algo novo, vem desde sempre, passando pelos inúmeros Impérios, o Romano dominando o mundo todo, o de Alexandre, o Grande, modernamente, o de Napoleão e dia desses, o de Hitler, para resumir bem resumidamente a infinita história de tiranias da humanidade. O delírio incessante de dominar o mundo infelizmente é algo de consequências bem concretas. A tirania global é impossível de não ser fator a ser levado muito a sério em qualquer tentativa de análise da realidade das nações e povos.

O fim de uma entidade totalitária bem real -- o bloco comunista soviético -- é interpretado por muitos como sendo a morte do socialismo/comunismo, e da possibilidade do totalitarismo acontecer. Em certos círculos, notadamente naqueles onde as pessoas crêem serem atualizadas, falar em comunismo é que Elvis Presley não morreu. Não tenho conhecimento suficente para afirmar a etiologia deste fenômeno, se é obra de desinformação proposital, ou uma simples interpretação apressada, dessas cuja hermenêutica de grande complexidade demanda um tempo maior de análise, aliada a um maior conhecimento específico, algo além do que a média das pessoas, mesmo as mais instruídas, possui. Assim, caso o Chefe de Estado não seja um biltre metido em trajes militares, nem comece a tagarelar com base nos termos do tipo "imperialismo", ok, não há tal regime. Ou seja, caso não seja um Fidel, não há socialismo. Pode ser um sargentão como Hugo Chávez, a fechar emissoras de TV, estatizar empresas e bradar frases velhas e mofadas, mas não há socialismo lá, afinal, há eleições, mesmo que ninguém tenha como noticiar fraudes e o governo use expedientes como os que o colega Lula usa, os "bolsas tudo". Pensar em tais assuntos é encher a mente com coisas negativas. São tantas as mentiras ditas habilmente para parecerem meias verdades e verdades inteiras, que o cérebro parece ter tanto a analisar tudo detalhadamente que diz "ah, que se dane". A mim fica bem claro, como para algumas pessoas, que o socialismo é mutável o bastante para existir sem a necessidade de um barbudo no governo. Pode ser muito bem uma educada senhora, ou um elegante senhor de fala mansa, a discutir num tom amistoso a legalização do aborto, casamento gay e redução das emissões de carbono.

Essa caricaturização do socialismo/comunismo é muito nociva, pois desvia o foco dos desdobramentos desta massa amorfa. O núcleo das idéias socialistas/comunistas reside na questão da renda, e da posse. Todo o resto é firula. O erro na compreensão do lucro gera a necessidade primária de redistribuir esta renda a quem é "explorado".
Na França, Alemanha, Suécia e Noruega hoje em dia trabalha-se mais da metade do ano para pagar impostos. O socialismo travestiu-se, desmilitarizou-se, foi pro shopping, e usa iPhone. Outrora uma lagarta grande e peluda, agora voa por aí, repaginado. Tal mudança é a social-democracia. A tirania não personificada em um líder ou grupo político, e sim num sistema que usa os homens para manter-se. Esse sistema gerou um Estado que tem muitas obrigações para com todos seus cidadãos. Tem que dar moradia, instrução, saúde, e como não gera lucro, tem que tirar esses recursos de quem produz. Este "Estado Babá" (Nanny State), é algo aparentemente muito conveniente, pois há mais direitos que deveres . Uma tentativa de compreensão deste trágico cenário pode começar pela análise do nome: precisa de babá quem é hipossuficiente. Um bebé, ou qualquer pessoa cuja enfermidade a impossibilite de tomar conta de si mesma. Um estado que garanta todas as condições para vivermos, retirando de nosso controle aspectos importantes de nossa vida -- condições para vendermos nossa força de trabalho, possuirmos bens, termos filhos, etc. -- criará o que ficou conhecido como o homo sovieticus, termo criado pelo sociólogo Aleksandr Zinovyev. Um rápido exemplo deste tipo de homem pode ser explicado pelo personagem de Morgan Freeman no premiado em Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption). Uma vez livre depois de quarenta anos preso, "Red" vai trabalhar num supermercado como empacotador e pergunta ao chefe sempre se pode ir ao banheiro, e o chefe repete que não precisa pedir, basta ir. Depois de tanto tempo condicionado, para mudar um modelo mental é complicado.

Este ideário encerra conceitos muito perigosos em ralação a temas centras de nossas vidas: a família, a propriedade, a liberdade individual.

A família

Todos os dias temos notícias de discretas formas adotadas pelo Estado, mundialmente, para transferir o controle sobre a instituição que conhecemos como família. Exemplo disso é quando a idéia de educar as crianças em casa torna-se algo absurdo numa sociedade. Caso não caiba nem a discussão do que é melhor para as crianças, fica patente a quem pertencem as crianças: o Estado. Em tempos onde o tráfico humano -- prática atávica -- é uma daquelas coisas descobertas como se nunca tivessem existido ou tivessem acabado com a abolição da escravatura pelo mundo afora, realmente nota-se o grau de distanciamento dos grandes círculos de informação perante certos temas básicos da vida humana.

Numa sociedade moralmente sadia não pode haver dúvida sobre a quem pertence os filhos de um casal, gerado pelos meios naturais -- são inteiramente de seus pais. Tal propriedade não é autorização para qualquer maltrato, como o dono não pode chutar o poodle, e como desculpa gritar afetadinho que ele é dele e ele faz o que quiser. Ao contrário do pobre cachorrinho, a criança está desenvolvendo sua consciência para compreender que se pertence, embora muitas pessoas morrem velhas e infelizmente não tenham esta óbvia constatação.

Uma forte ofensiva contra a família reside na crença de que a "evolução" do homem é ser avulso, ter filhos independentemente de família ou casamento. Esquecem que além da proteção física (caso um dos pais morra o outro assume), há o arcabouço psicológico, de ter o apoio em casa, de ter um lar. Some-se a isso a constatação de como sofrem as pessoas hoje nos países civilizados, como deprimem-se e vivem a base de remédios, por não contarem com uma base familiar bem estabelecida. Egoísmo, ganância e infantilidade usam esta suposta possibilidade do fim da família ser possível e o mundo não entrar em colapso. Porém, sem o fim da família, não poderá acabar o Estado, e ser implantado um governo mundial. Pensem bem neste tema sem emoções e preconceitos.

Propriedade privada

Em quase todos países onde existem alguma forma mais ou menos estável de democracia -- América do Norte, Leste Europeu, Ásia, Oceania, e uns gatos pingados mundo afora -- o governo absorve grande parte do que é produzido através da carga tributária. Tal noção é bem vívida nos EUA, com seu Tax Freedom Day, ou seja, o primeiro dia do ano que você não está trabalhando para o governo. Lá, são mais de três meses para pagar impostos. Aqui pelo Brasil varonil são mais de quatro meses. O pensamento corrente é que sim impostos são necessários, afinal, como vai se manter a estrutura do Estado? Contrariar este dogma civil atrai pensamentos como "o que você está pensando é ridículo, quero o fim dos impostos, que coisa mais fora de propósito, se toque!". Discutir a contrapartida dos impostos nem interessa nesta conversa. É claro que na Suécia há os serviços públicos em nível muito superior aos daqui, né? O que interessa é que metade da sua força de trabalho dos cidadãos dos países desenvolvidos vão para um governo, e da pior forma: não arrancado por um soldado de frios olhos assassinos, mas por uma senhora rechonchuda e perfumada do fisco. Ter, possuir, tem muito mais a ver com ter domínio sobre, sem interferências, do que com um título ou qualquer outra besteira. No Brasil você compra um carro, tem num papel que ele é seu, e 60% daquele dinheiro vai para o governo. Isso é um absurdo, embora as pessoas gastem mais tempo falando do time de futebol ou da novela.

Liberdade individual

A liberdade individual não existe no vácuo. Posso imaginar um bocó pensando "Ah sou livre, vou dar a volta ao mundo, fumando maconha, e lutar pelos direitos dos poodles". E ter a péssima constatação que sua liberdade acaba quando desceu do ônibus na próxima rodoviária e que a liberdade para sair do país custa bem mais dinheiro do que ele imagina. Mas aí ele pode pedir carona, eventurar-se, andar, ou comprar uma motocicleta, como o me lambe os ovos do Che Guevara, e sair passando pela América do Sul. Você, sim, você aí, pode sentir-se livre e andar a pé o mundo todo e levar uma carreira de um ganso invocado por você ter invadido o território dele. Antes de entrar em discussão jurídica sobre a positividade do direito versus naturalidade e ganso arrancar seu olho com uma bicada para terminar o assunto, fica bem claro que a liberdade tem limites. É mais fácil dizer o que a liberdade não é, do que ela é. Como a luz, e a sobra. O que é a luz? Bem mais fácil dizer que a sombra é a ausência de luz. Acho que já escrevi sobre isso. Bem, sigamos, se quiser diversidade, vá para onde você está imaginando.

Para sermos livres numa sociedade, é preciso ter instituições que nos permitam gozar deste privilégio, da mesma maneira que só somos livres no colégio por causa das professoras que vigilantes vigiavam-nos na hora do recreio, protegendo-nos dos alunos mais velhos que insistiam em acabar com nossa liberdade de ir e vir. Tais professoras, tornavam-nos livres para jogar bola, cantar, brincar, e interagir de inúmeras maneiras no pátio do recreio, mas não éramos livres para ficarmos pelados. Tampouco podemos ficar vestidos numa praia exclusivamente nudista. Nem um soldado pode desfilar de chinelos porque machucou o dedão numa bola dividida, no dia anterior.

Embora sejam situações diferentes, não podemos nos esquecer dos condicionantes da liberdade. Quando a liberdade de uma nação é posta em cheque por conta de ameaças beligerantes, acontecem as guerras, resultado no século passado somente de ofensivas de países totalitários contra países democráticos. Interessante, não?

Está na hora das pessoas saírem de suas prisões mentais e começarem a ver este cerceamento da liberdade num nível totalmente supranacional.

Não se deixem seduzir pela delícia de ter a opinião da maioria. Embora sinta resistência em comentar isso em rodas de amigos, procure dar esta idéia sem maiores intenções histéricas, pois apesar do assunto ser da maior gravidade, podem taxar a você de radical. Não se preocupe, porém. Radical de verdade é quem quer mudar o mundo inteiro, e para pior. Pense nisso tranquilamente. Isto é, se alguém ler isto.

Um comentário:

  1. Lá vem você de novo falar essa frase: "Isto é, se alguém ler isso." Saiba que esse blog tem um conteúdo exclusivíssimo e há muitas pessoas que admiram seus textos e eventualmente os lêem. De fato, poucas pessoas conhecem tal página. Mas isso não é por falta de público e sim por sua falta de divulgação... Pessoas que eu tinha certeza que conheciam e não liam, pensava eu que seriam umas idiotas e não se interessassem pelo mesmo, na verdade, nunca tinham tomado conhecimento da existência dessa obra de tamanha genialidade e personalidade (não é minha opinião exclusivamente). portanto acho fundamental a divulgação deste espaço para as pessoas ao seu redor inicialmente. Por que a sociedade deve despertar desse empobrecimento intelectual que adormeceu toda a nossa geração e nos leva à um futuro cada vez mais distante dos ideais de liberdade e desenvolvimento humano que tanto fazem falta aos anseios da burguesia a qual nos fazemos parte.

    ResponderExcluir